19 janeiro 2007

Uma história

Semanas antes de viajar para Salvador a ansiedade tomou conta da minha rotina. Vontade, vontade e vontade de chegar logo na cidade. Sentia a necessidade de vivenciar aquele lugar, recorria a fotos, músicas de Caymmi, poemas de Vinícius.... tudo que me lembrasse a Bahia. As fotos existiam, as músicas também, mas e os textos, além de alguns versos?! Onde eles estavam? Algo que descrevesse as emoções de estar ali. Ali em frente à Baia de Todos os Santos, contemplar aquela imensidão de azul, aqueles muitos barcos, que parecem poucos e pequenos perante aquele mar.

Enfim, chego a cidade! Ao sair de casa todos os dias, pensava eu, hoje vou achar inspiração para escrever sobre a cidade. O dia chegava ao fim e nada. Praia, areia, brisa, risadas ecoavam de todos os lados, discussões - que também eram motivos de gargalhadas -, e sons, sons de todos os lados, vira e mexe e tem alguém batucando em algum canto. A cidade parece que é moldada pela música. Na cidade costeira, os ventos fazem curvas e cantam ao dobrar a cidade. Nas conversas com alguns novos íntimos a exclamação: Você mora em Brasília?!!! Mas o que você faz lá? Lá não tem praia!!! É, eu bem sei! Brasília não tem praia, não tem brisa, não tem mar. Aliás, praia até tem, mas é praia sem mar, é praia de lago e lago não tem sal. Eu me pegava pensando em Brasília, tentando achar respostas para a pergunta que sempre se repetia.

Chegava a Salvador de lancha. O elevador, logo em frente ao porto, me convidava a subir. Me convidava a olhar a cidade por cima. A tomar sorvete na Cubana, na saída do elevador, e depois deslizar sem pressa até a Praça da Sé, onde uma linda fonte luminosa dança ao som das músicas que ecoam dela mesma. Ainda dentro do elevador, ouço histórias engraçadas e rio timidamente. As histórias são contadas a outras pessoas que não a mim, mas ao perceberem o meu tímido interesse, a história começa a ser contado a todos que se encontram naquele lugar. Eu descia e subia ladeiras, e conservava um ar estrangeiro sobre a minha cidade. Eu me sentia cansada. Aquelas pedras do Pelorinho cansavam demais! Mas eu não queria ir embora. Eu queria ficar ali, eu queria conversar com as pessoas que passam o dia inteiro ali. Infelizmente o tempo não parava, eu já... já tinha que correr para dar tempo de sair de novo.

Estou na cidade que namora com o verão. O sol parece se estender para iluminar mais a cidade. Bronzear mais meninas, rapazes, deixar a pele arder e acender outras chamas. Continuo a pensar Brasília e a vivenciar Salvador!

Vivêncio o pôr-do-sol no mar, as ondas que batem nas pedras, as escunas que rasgam o mar, as ondas que me molham enquanto atravesso a baía, o sol queima meu braço, queima meu cabelo, me deixa a pele com cheiro de mar e gosto de sal. Perto de casa um barzinho nos convida a beber, bater-papo, rever os amigos. Os amigos, ah, os amigos... agora com outros compromissos, não mais podem varar a madrugada a conversar, me deixam nas baladas, que eu não mais me identifico, e se vão saudosos, tanto quanto eu. Me sinto obrigada a aproveitar cada minuto, gente bonita, beira do mar, salsa ao fundo, cerveja gelada, gente bonita... Quero ir para casa! Quero dormir! Nem acredito que esses são os meus pensamentos. O sol amoleceu meu corpo, o mar deixou a arder meus olhos, as pedras do Pelô cansaram as minhas pernas, meus pés não se arriscam a dançar salsa.

Desisti de escrever algo sobre Salvador. Entendo que o medo do fracasso deve ter feito muitas outras tentativas, também, ficarem pelo caminho. Deixar escapar a essência de uma cidade que difere de outras, mesmo tendo os mesmos atrativos, seria, no mínimo, um crime que não permite reparação para com quem desistiu de conhecer a cidade por achar sem vida a sua descrição.