Ontem na sala de aula esse tema caiu na pauta. Apesar de já ter discutido muito sobre esse assunto, nunca cheguei a uma definição para essas duas palavras. Abre parênteses – esta questão da utilização das palavras, inclusive, é um bom assunto para outro post, mas o que tenho a dizer neste momento é que
um dia aprendemos que as palavras nos traem – fecha parênteses. Fui uma adolescente, acredito eu, normal. Na verdade, acho até que um pouco fora do comum, pois sempre fui compreensiva demais, mal de filha do meio. Morei em Salvador até os 17 anos. Aprendi desde cedo que a maldade está na cabeça dos outros.
As minhas roupas sempre foram as mais curtas possíveis - shortinhos, mini-blusas e por aí vai. Eu não tinha a mínima intenção de provocar,
achava era bonito ver o corpo com as suas formas naturais exposto, além do clima quente favorecer o uso dessas roupas. Na minha percepção as roupas eram no máximo sensuais.
Na iminência de completar 18 anos me mudei para o Rio. Uma cidade, que apesar da semelhança climática e geográfica, é muito diferente de Salvador. Tem outro ritmo, uma outra forma de percepção, o
time é definitivamente outro. Não renovei o meu guarda-roupa ao chegar no Rio, mas com o passar dos dias verifiquei que os meus trajes não eram muito adequados. Era estranho, em Salvador as roupas curtas eram mais do que aceitáveis. No Rio, das poucas vezes que tentei sair à rua com um short curto,
me senti uma transgressora das regras em uma sociedade civilizada. No primeiro retorno à Salvador doei grande parte das minhas roupas às minhas primas, justifiquei que essas não mais faziam parte da minha realidade, não mais se adequavam ao meu novo contexto de vida...(rs, elas acharam ótimo). Só viria a discutir esse assunto quando entrasse na faculdade, onde aprendi, teoricamente, que o “Meio é a Mensagem”- na prática eu já havia atentado para essa questão.
Nas discussões sobre a estética de Salvador sempre vinham aquelas declarações, no mínimo, preconceituosas. Sobre as danças, as formas de se vestir e principalmente as letras das músicas.
Defendia: - As pessoas no Nordeste são desprendidas de censura. A sensualidade é uma questão tão inerente quanto a musicalidade para àquele povo. E, no mais, qualquer lixo de música que a Bahia produza não chega a ser pior que os funks cariocas. Essa questão me lembra aquele quadro do programa
Fantástico,
Central da Periferia, apresentado, com muita competência, por Regina Casé. Ela mostra uma realidade tão feliz e livre de preconceitos na periferia que deve deixar os ricos morrendo de inveja dos pobres.
Depois que me distancie de Salvador nunca mais consegui olhar a minha cidade com os mesmos olhos. Há um ar nostálgico, pois sei que nunca mais vou vivenciar a minha terra como na época de infância, sei que
“um homem não toma banho duas vezes no mesmo rio”, porque o homem e nem o rio serão os mesmos (Frase do pensador Heráclito da Grécia Antiga. Para ele, os seres não têm estabilidade nenhuma, estão em constante movimento, modificando-se. Concordo
plenamente).
Hoje vejo algumas danças no verão de Salvador como pornográficas, a sensualidade é exacerbada demais.
Então conclui, ontem na aula do
Professor Provocador, que
a pornografia só se sustenta pela repressão, pela censura. O que, na maioria das vezes, é comercial. Não consideramos um quadro que contenha um nú artístico como pornográfico, aquilo é erótico.
O nú artístico não é comercializado, é doado. No entanto, no cinema e nas revistas é pornográfico, tudo é vendido, é a exposição, na maioria das vezes encenação.Pergunte para àquelas meninas de beira de praia - que andam com suas micro roupas, suas marcas de biquíni a mostra – se elas se acham vulgar? Se elas consideram que algo tão natural, dentro da realidade delas, pode ser pornográfico?
Alguns costumam dizer que a graça do erótico ou do sensual está no mostra não mostra, no jogo de esconde, mas eu não concordo com essa tese.
A sensualidade é algo que vem de dentro. A sensualidade não é uma exposição, ela é, assim como o erotismo, natural.