31 agosto 2008

Katrina

O rímel avolumava os cílios quando os primeiros pingos fizeram barulho no telhado. Era a chuva que dava o ar da graça depois de meses. É de se festejar. Corre pro jardim e já havia outros pulando também. – Viva! Mas não durou muito. Foi só um sinal de que a natureza não falha. Já chega o Sr. Setembro trazendo as chuvas, as tempestades, as roupas molhadas dentro de casa e a saudade do sol. Virá também o sono bom com o barulho do vento na janela e o doce cheiro de terra molhada.

29 agosto 2008

“Ouvia gabar os beijos,
Dizer deles tanto bem,
Que me nasceram desejos
De provar alguns também.
Essa fruta não é rara,
Mas nem toda tem valor,
A melhor é muito cara
E a barata é sem sabor.”

Júlio Dinis

28 agosto 2008

de passagem

Hoje acordei com vontade de ter em mãos baldes de tinta. Todas guache, é claro. Observei que meus cenários tem cores muito densas. Há muita seriedade. É trabalho. É família. É estudo. Mas também é medo. Mas também é tristeza. Quem sabe mais lilás, quem sabe verde-cana? Rosa?... faz tempo que não uso.
Saudade, ah essa bandida! "Deixa a gente comovido como o diabo"

Vai passar, vai passar...

Sempre

"Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera em nada... Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro..."


Clarice Lispector

13 agosto 2008

Desassossego

Esta noite, quando as cortinas dos meus olhos se fecharam, meu coração tentou suspirar baixinho. Inútil tentativa de querer me fazer dormir. Vou ficar acordada quantas horas for necessário. Vigiando-te. Vou entrar embaixo do meu cobertor e simular de novo um ambiente só nosso. Vou ver mais uma vez a cortina do quarto se fechar. O sol da tarde lá fora denunciar que o dia segue seu curso. Inspirar fundo a cada abraço seu. Debaixo do cobertor, minha respiração vai esquentar meus pensamentos. Que por fim, afagará meu generoso coração, pra ele sim, dormir sossegado.

05 agosto 2008

Ela sempre vem...


Uma ventania estranha balançou hoje as cortinas da minha janela. Ela tinha um cheiro familiar, era a Mudança que anunciava sua chegada. Meu corpo estava dolorido e a mente um pouco tonta, mas não deixei de reconhecê-la.

Alguns instantes depois, percebi a sua presença já nos meus aposentos e a vi vasculhar minhas memórias, minhas esperanças, minhas tristezas, também as minhas dores, guardadas junto com os amores. Vi também sua elegância em não mexer no baú dos meus sonhos, estava apreensiva com a sua aproximação dele. Mas ela olhou por fora e o viu tão bem enfeitado, colorido, que acredito que ponderou que estava tudo certo com ele.

Dessa vez resolvi não interferir. Pra quê? Deixa ela levar embora o que é necessário. Quebrar algumas coisas, consertar outras, ela e o tempo são expert nisso. Da última vez que tentei imterrompe-la só perdi dias valiosos da minha vida, sem nada a aprender. Fiquei ali, mastigando aqueles velhos frutos que já não valiam de nada. Já tinham perdido o viço e o sabor.

Ela foi até rápida. Voltou rápido também desde a última visita. Essa mudança tá cada dia mais presente. É assim nessa fase da vida? Que fase estou?
- Ei, ei... volta aqui! Não me deixa sem resposta. (Pulei mais que depressa da cama).
E as cortinas já balançavam novamente com a ventania que ela provoca por onde passa.