15 março 2011

Fúria

Ela já não tinha mais esperança. Talvez, já fosse a desesperança em si. Olhou ao seu redor, teve os olhos fisgados pelos raios de luz no chão. Eles reproduziam as grades de ferro, um pouco acima de sua cabeça, que lhe separavam das ruas. Ela já não sabia quem era, o que queria e o que mais lhe aguardava, além de anos naquela cela fria acompanhada de baratas.

Neste instante, um fio de lucidez invadiu sua mente. As últimas 24h correram pela sua memória, Joana ficou tonta. Lembrou da música alta e do cheiro de cigarro que embriagavam aquela sala. Num canto, o enxergou. Ele estava com aquele olhar derretido, encantado e com um leve sorriso no canto da boca. Ela conhecia aqueles trejeitos: estava seduzido e seduzindo. A moça, nem tão bonita, mas jovem, era só sorrisos. Próximos a janela, o vento, a balançar os cabelos dela, parecia não incomodá-lo.

Foi tomada pela fúria. Depois disso, Joana só lembra dos vidros quebrados e do vento, que entrava com mais força e quase arrancava as cortinas. Neste instante, uma leve satisfação lhe tomou a alma. Agora, era ela quem carregava o sorriso no canto da boca.