26 setembro 2006

A Sapoti

Por mãos de meu amigo Reginaldo Vasconcelos (il Maschio del Rio Pacoti), excelente escritor cearense, chega-me uma caixa misteriosa, embrulho amassado, desses típicos feitos por homem. Abro-a. Deslumbramento. Uma caixa repleta de (vou dizer sílaba a sílaba, a salivar. Leiam bem devagarinho): SA----PO---TI! E do Ceará, Fortaleza, não sei se das encostas dos altos e belos verdes de São Benedito, que é santo de cor, abençoado, se de perto da Praia de Sabiguaba, das margens do Rio Cocó, a fluir silencioso por dentro da Capital ou dos longes de Ibiapina. Sim: sem méritos para tal, eu ganhara uma caixa de SA---PO---TI!

Desde a infância este não tão conspícuo senhor de quase 70 anos jamais havia “sapotireado” delícia igual. Só que, quando criança, eu não sabia que esta palavra jamais deveria ser masculina.Sapoti é uma fruta mulher, em tudo: seu sabor de seio cheiroso, sua maciez de mulher umedecida e prontinha para o amor. Seu formato vulvar se cortado em quatro partes iguais, guarda em segredo - mas logo revela - os filhotes da luzidia semente negra. É a Sapoti. Mas já hoje não podemos dar-lhe o feminino por que outra mulher, uma das vozes mais bonitas com a qual nosso País contou conta e cantou, já fixou para si o apelido de A Sapoti: a nossa grande Ângela Maria.

Sapoti não se come: beija-se e seu liquefazer-se no ato de união das carnes umedece-se da doce saliva da mulher amada e outras umidades que predispõem à cópula. Sua cor de morenice inexplicável, sua forma de pomo dos jardins do paraíso, a brasilidade no nome, a delicadeza e não resistência à entrega me dá a certeza: sapoti é mulher. Como manga é mulher. Abacaxi é homem. Caqui é mulher. Mamão é transformista.Pêra é mulher. Banana é homem. Amora é mulher. E o citado pecado original de Adão (pecado original existe, sim, mas é outra coisa) não foi com maçã, foi com sapoti. Juro.

Pomo feiticeiro de delícias sensuais, mulher transformada em fruto desde os tempos da mitologia grega(Dafne, belíssima, sem merecer, recebeu a vingança de um daqueles deuses que transavam com mortais, resistiu-lhe, manteve a virgindade e o vingativo, frustrado, a transformou na árvore do loureiro) e a coroa de louros (que hoje se bota no feijão...) enfeitava a cabeça dos heróis.Pois tenho a certeza que o mesmo ocorreu com outra mulher ainda mais bela que Dafne e esta foi transformada na sapoti. Eu sei quem é, porém não digo o nome.

Arthur da Távola

22 setembro 2006

Meu pior defeito!!!

Não saberia descrever todos os meus defeitos, mas de certo sei o pior deles. Ele que tanto me protege quanto me ataca, mina as minhas possibilidades de ser livre, me põe em cativeiro, estreita as minhas áreas de ações, me aproxima e me afasta das pessoas. Alguns podem até enxergá-lo como virtude, mas eu já não acredito que este sentimento tenha alguma utilidade. Estou falando do Orgulho, assim mesmo com inicial maíuscula, de tão cheio de si que ele é.

Apesar de atacá-lo tanto, também saio em sua defesa, ele nunca é nocivo a ninguém que não a mim. Sei que vão dizer que o Orgulho é um sentimento importante, eu também o acho, afinal, o que seria de uma nação sem orgulho, um povo sem orgulho, uma sociedade sem orgulho?! Certamente seriam sub julgados por qualquer um!

Acho que não está muito claro. Estou tentando dizer que o Orgulho é um sentimento que eu descartaria na minha vida, se tivesse a oportunidade. Mas é impossível, ele é a minha muleta, a minha armadura, o meu
remédio e o meu veneno. Não sou um pessoa cheia de si, longe de mim, mas os meus atos, os meus caminhos escolhidos de fato irão marcar a minha vida sempre, posso até mudar de opinião, mas dificilmente voltaria atrás em uma escolha. Se escolho um caminho e depois de iniciá-lo vejo que tem muito mais pedras do que eu imaginava... só lamento, vou até o fim. Com as pessoas que passaram pela minha vida ajo da mesma forma. Sou de fato resultado das escolhas que fiz, isso é fácil de confirmar pelos amigos que tenho. Alguns me chamam de "cabeça-dura", mas chamo isso de Orgulho. Como posso conviver com uma pessoa que me fez um ofensa e não se retratou, que me deve uma explicação e ignorou o fato. Onde está o meu Orgulho nisso tudo?! Não peço explicações a ninguém, peço licença e me retiro a minha individualidade. Em linguagem virtual é o que chamaríamos de DELETE!!!

19 setembro 2006

Por que tanto preconceito contra as prostitutas se elas vendem a parte menos nobre?!?

Não entendo o porquê de tanto preconceito se tem gente que vende algo muito mais valioso, que é a alma. Como alguns de nossos políticos, de forma que prejudicam milhares de pessoas. Olhando desta forma, o corpo vendido acaba sendo menos nobre que o caráter, a moral...

Mandei a pergunta acima para uma comunidade de pessoas que buscam conhecimento(sic), talvez só uma forma de passar o tempo. Com um simples cadastro você pode fazer e responder perguntas. Esta comunidade tem gente de todo tipo, o número de perguntas e respostas inteligentes é equivalente às idiotas, ou mesmo absurdas. Enfim, segue abaixo a seleção de algumas respostas que eu recebi:


Francisco N. (O Confuso)
Eu não concordo, e concordo, entende. complicado né?

Mcinterterapia ( A Liberal)

Ocorre que ainda prevalece o velho falso moralismo, segundo o qual, os vendilhões de alma e moral, por se passarem por bons chefes de família, devem ser considerados nobres, ao passo que as prostitutas, das quais muitas vezes eles também se servem, devem ser postas à margem, como exemplo do que a falsa sociedade moralista tem de pior.

Harold ( O que fala pelos "outros", o que também se acha "o dono da razão")
Na verdade as prostitutas não se vendem. Se alugam. É diferente. Elas alugam o corpo para o prazer por algum tempo.Quanto ao tal do "preconceito"...será que existe esse tal de preconceito mesmo? O que é preconceito? É uma idéia pré-concebida sobre algo que ainda não se conhece. Todo mundo sabe o que é uma prostituta. Logo, dificilmente vai haver "pré-conceito" a respeito delas. O que pode haver é ódio. Ou seja, muitas pessoas não gostam de prostitutas, e por razões óbvias não querem que suas filhas se influenciem por elas e se tornem prostitutas também. Nem tampouco suas mulheres e mães.

Deleon (O Religioso)
Está na bíblia que quem comete prostituição não herdará o reino de DEUS!!

Anjo (Que tipo de anjo será ele?)
Existe em tudo isso uma baita duma hipocrisia. Devia haver a legalização deste serviço, dando-lhes o direito ao livre exercício da profissão. A clandestinidade gera os crimes e doenças acompanhantes. É como serviço de táxi: usa quem quer ou quem precisa...

Newbone ( Aquele que nunca vira o disco, a culpa é sempre do eleitor. Além de não ter coerência no discurso)
Pode até ser pouco nobre para vc, mas, para mim não é não! Já, para os políticos, é o contrário do que vc diz. Eles não vendem nada, pois são os eleitores, que vendem o seu voto!!! Meu preconceito é contra eles!

Valmir l (O Religioso, analfabeto funcional)
Não é preconceito, nós não podemos ser a favor do pecado. é contra a vontade de Deus. Adultério é pecado e nós temos que obedecer a bíblia, pois ela é a Palavra do nosso Pai.

Nara (Uma possível candidata a profissão)
Pois tem muita mina q se dá de graça...não tem coragem de cobrar. Aí, tem o preconceito (contra as prostitutas), pq elas tem coragem e não sãoo como essas meninas q são burras...Pelo menos elas cobram....

Lusquadon ( O Oportunista)
Não tenho preconceito nenhum, muito pelo contrário, apoio a decisão de cada um ser o que quiser, desde que não prejudique ninguém.Mas vou discordar em uma coisa, não acho que elas "vendam" a parte menos nobre, pelo menos (para nós homens) a parte que elas vendem é simplesmente adorável, não vivemos sem isso. Pagando ou não (eh.eh.eh...).

Vou fechar este post com a mensagem do Blog de um amigo:

"As almas de muita gente são como o rio profundo - a face tão transparente e quanto lodo no fundo!..."

Belmiro Braga



15 setembro 2006

Quem tem medo do Lobo Mau?!

Adoro revelar o outro lado das coisas. E eis uma coisa que sempre existe, uma outra versão da história. Agora, se existe uma falsa e outra verdadeira.... Há algum tempo ouvi uma outra versão do conto da Chapeuzinho Vermelho, estória essa, eternizada pelos irmãos Grimm. Mas a versão que eu ouvi tem um final bem diferente da versão dos irmãos. Esta outra versão é de Charles Perrault, segue abaixo:

Certo dia, a mãe de uma menina mandou que ela levasse um pouco de pão e de leite para sua avó. Quando a menina ia caminhando pela floresta, um lobo aproximou-se e perguntou-lhe para onde se dirigia. - Para a casa de vovó; ela respondeu. - Por que caminho você vai, o dos alfinetes ou o das agulha? - O das agulhas. Então o lobo seguiu pelo caminho dos alfinetes e chegou primeiro à casa. Matou a avó, despejou seu sangue numa garrafa e cortou sua carne em fatias, colocando tudo numa travessa. Depois, vestiu sua roupa de dormir e ficou deitado na cama, à espera.

Pam, pam.

- Entre, querida. - Olá, vovó. Trouxe para a senhora um pouco de pão e de leite. - Sirva-se também de alguma coisa, minha querida. Há carne e vinho na copa.
A menina comeu o que lhe era oferecido e, enquanto o fazia, um gatinho disse: "menina perdida! Comer a carne e beber o sangue de sua avó!"
Então, o lobo disse: -
Tire a roupa e deite-se na cama comigo. - Onde ponho meu avental? - Jogue no fogo. Você não vai precisar mais dele.
Para cada peça de roupa, corpete, saia, anágua e meias a menina fazia a mesma pergunta. E, a cada vez, o lobo respondia: - Jogue no fogo. Você não vai precisar mais dela.
Quando a menina se deitou na cama, disse: - Ah, vovó! Como você é peluda! - É para me manter mais aquecida, querida. - Ah, vovó! Que ombros largos você tem! - É para carregar melhor a lenha, querida - Ah, vovó! Como são compridas as suas unhas! - É para me coçar melhor, querida! - Ah, vovó! Que dentes grandes você tem! - É para comer melhor você, querida.

E ele a devorou.


Esta primeira versão é cheia de interpretações. Não vou encher o texto delas, mas, como estava discutindo sobre consumo ontem, vale lembrar que a versão oficial foi modificada para torná-la mais comercial. De que forma?! Oras, reforçando velhos paradigmas: o bem sempre vence, sempre há um herói, vencemos a morte (a vovozinha é retirada da barriga do Lobo), ah, e não falamos sobre sexo. Uma das melhores interpretações sobre a estória, que eu li, foi a que compara o decorrer do conto com um jogo. Cada jogador dá as suas cartas, com um pouco de atenção podemos prever o desfecho final do jogo. Perfil do jogador Lobo:

Lobo pode ser visto como metáfora do homem sedutor. Porém, o que de imediato não se pode perceber é o conteúdo simbólico contido em tal personagem. Recorrendo ao Dicionário de símbolos, diversos significados do símbolo “lobo” são encontrados. No entanto, um chama atenção para o dado contexto sedutor – o “lobo” como um símbolo devorador. O “lobo”, a partir desta interpretação, pode ser comparado a Cronos, Deus grego que devorava seus filhos. Cronos, assim, passa a ser confundido com Chronos – o tempo – mas um tempo que devora a juventude de homens e objetos. Fromm, em seu estudo A linguagem esquecida, ressalta a imagem devoradora do ato sexual tal qual Cronos devorava seus filhos e o tempo à vida, a relação sexual é encarada como o devorar da fêmea pelo macho. E é desta característica devoradora que se poderá compreender o significado simbólico do embate entre Chapeuzinho Vermelho e o Lobo. (Calina M. Fujimura - UERJ)

Depois de indentificar a figura do Lobo é mais fácil compreender a estória. Fica claro o jogo de sedução. O Lobo não representa um animal faminto que quer devorar a primeira vítima que vê pela frente e sim representa um homem astuto e sedutor que será responsável pelo amadurecimento de Chapeuzinho Vermelho. Os símbolos oferecidos por Chapeuzinho Vermelho complementam ainda mais essa visão.

"O vermelho é a cor que significa as emoções violentas, incluindo as sexuais. O capuz de veludo vermelho que a avó dá para Chapeuzinho pode então ser encarado como o símbolo de uma transferência prematura da atração sexual. "

No conto dos Grimm essa transferência do capuz não é citada, mas a transferência é feita de outra forma, no momento em que a menina bebe o sangue e come a carne da avó. Neste momento pode-se prever o futuro da menina quando o gato, simbolicamente um animal que carrega o dom da vidência (dizem que este animal tem um pé aqui e o outro no outro mundo), sentencia: - Menina perdida!

Ainda no decorrrer da história é possivel verificar a passividade de Chapeuzino Vermelho que opta pelo caminho mais longo, avisa pro Lobo, e, no caminho, se distrai colhendo avelãs - símbolo do fertilidade e da luxúria- e correndo atrás das borboletas - símbolo da metamorfose.


No desfecho final da estória as insinuações continuam, no momento em que a "inocente" menina pergunta o que deve fazer com as suas roupas. E o Lobo determina: - Jogue no fogo. Você não precisará mas dela. No diálogo seguinte ela demonstra espanto ao corpo da avó-lobo, e fala das orelhas, olhos, mãos e boca tão grandes, que por fim moldam o corpo masculino. Após este diálogo a menina é devorada, como já era previsível, pois a menina dá as cartas ao Lobo movida pela atração.
Os dois venceram a partida: "uma foi devorada, tal qual tinha sugerido desejar, e o outro devorou, como ditava sua 'fome'. Empatou." Conclui a autora do estudo Calina M. Fujimura.

13 setembro 2006

No comando de uma máquina possante!!!


Imagine que você saiu de férias. Você mora no sul do Brasil e viajou para o interior do nordeste. Lá resolveu alugar um carro. Aí, DU-VI-DO que você tenha com o carro alugado o mesmo cuidado que você tem ou teria se o carro fosse seu!!! Ainda mais que para evitar aborrecimentos, você resolveu pagar o seguro que cobre todos os possíveis incidentes, acidentes e/ou fenômenos da natureza. Aposto que você irá utilizar o carro de todas as formas possíveis, ou mesmo impossíveis, de um jeito que você nunca teve coragem com o seu possante.

Agora imagine que você também pode alugar um corpo. Um corpo humano. Você só não pode escolher!!! Nada de preferências sobre feminino ou masculino, gostosão ou magricelo/gorducho, cor de pele, cabelos lisos ou crespos, nada disso. Você faria algo diferente do que você faz hoje com o corpo que te pertence? Pare e pense um pouco! Imagine-se livre de preconceitos, afinal, o corpo não é seu mesmo. Aposto que você pouco se importará se o corpo é feio ou bonito ou o quê as pessoas vão achar dele. O seu único intento é se divertir e ser feliz. Sim, enquanto você ocupar esse corpo, você sentirá todas as sensações do corpo humano: dor, desejo, prazer, medo, angústia... Mas lembre-se que ele é só emprestado. Imaginou?! Pensou bem o que você faria de diferente do que faz hoje? ... Pronto, agora que você usou e abusou do corpo alheio pode sair, não, ninguém vai te cobrar nada pelo "estrago" que você causou!!!
Não deixo de acreditar que a sensação que sentirá neste momento será de uma imensa satisfação. Afinal, você pode fazer um monte de coisas que sempre teve vontade e nunca fez, correto?!

Agora imagine que você acordou em um corpo e ninguém te avisou que ele não era seu. Você passará a sua vida inteira cheio de cuidados com este corpo. Se privando de várias possibilidades que o corpo humano oferece por excesso de zelo. Vai passar anos ofendido, e quem sabe, carregar uma vida inteira de complexos, porque alguém na infância apelidou você por causa do seu nariz, seu cabelo, sua perna ou qualquer outra coisa que você mesmo nunca suportou. Então chega a hora de você abandonar o seu corpo, e só neste momento você percebe que o corpo não é seu. A única utilidade dele era ser uma matéria física que lhe proporcionasse sensações de todos os tipos, boas e ruins. Você por algum motivo se sentirá frustrado por ter importado-se com algo que nem lhe pertence?

Acredito eu, que essa seja a sensação que teremos ao fim das nossas vidas. Alguém vai pedir que nos retiremos do corpo, e não teremos que prestar contas a ninguém. E, somente neste momento, perceberemos que ele não nos pertencia e que poderíamos ter aproveitado mais todas as possibilidades que esta máquina nos ofereceu um dia. O único cuidado que deveríamos ter tido era com a saúde, para que o corpo funcionasse a todo vapor e por muito tempo. Neste momento vai bater um arrependimento tremendo, em alguns, e um enorme alívio, em outros.

12 setembro 2006

A violência nossa de cada dia

Ouço inúmeras pessoas bem formadas e informadas repetirem que a violência emana da favela para o "asfalto". Estou cada dia mais em dúvida sobre isso, em verdade, um dia também já acreditei nesta teoria: a pobreza, a desigualdade social, a falta de educação e de cultura geram a barbárie da violência, que é comum no dia-a-dia das comunidades carentes. Porém, cada dia mais e mais, lemos nas manchetes de jornais, ouvimos no rádio e assistimos na TV as notícias dos crimes mais bem articulados possíveis, e ainda por cima, planejados e executados por pessoas que em nada são carentes.

Sempre defendi comunidades carentes quando alguns amigos teimavam em bradar que nas favelas só haviam "sementes do mal", por todos os motivos acima citados. Mas eu argumentava que o que acontecia eram que bandidos se aproveitavam da posição estratégica dos favelas, normalmente em morros, para se esconderem. Estes bandidos, que se aproveitam da situação carente da localidade para exercer poder sobre a vida daquelas pessoas, nada têm de Robin Hood, eles se comportam como ditadores e agem como verdadeiros responsáveis pelo direito de ir e vir daquelas pessoas.

Acredito que 90% da população carente, que sem opção, mora em favelas, são verdadeiros heróis de nosso cotidiano. Pessoas essas que saem para trabalhar como porteiros, diaristas, motoristas de ônibus, garis, garçonetes e sob todas as adversidades da vida não caem na marginalidade. Vivem, muitas vezes, abaixo da linha de pobreza, não têm perspectiva de vida. Vivem num mundo paralelo dentro das favelas, sob o coação não só do Estado, mas também de bandidos que agem de forma despudorada sobre àquelas pessoas.

Os tiroteios que impedem que as pessoas voltem para suas casas - depois de um dia de trabalho; as invasões da polícia e dos bandidos em seus lares; a obrigação de escolher um lado quando dois bandidos de uma mesma comunidade entram em guerra, e se, por azar, o lado escolhido for derrotado - normalmente com a morte do bandido - ser obrigado a abandonar a sua casa, levando a roupa do corpo e o que mais puder carregar nas mãos.

O que me deixa ainda mais indignada é não saber de onde vem o dinheiro de "caixa 2" que bancam campanhas milionárias dos nossos "honestos" políticos. E se vier do tráfico? E se este dinheiro for patrocinado pela violência que faz o nosso país ter números vergonhosos de assassinatos, números que se assemelham aos de países em guerra.

Por todos esses motivos sou levada a não acreditar que a violência tenha o sentido favela > asfalto, e sim, que venha dos mais altos níveis da sociedade e do poder institucional para a população mais carente do nosso país. Esta faixa, que visualizamos no post abaixo, reflete o grito dessas pessoas que querem somente uma condição de vida mais digna, para que a violência, que é comum ao ser humano, deixe de ser justificada nessas regiões, para que pessoas “grandes” parem de usar as mãos de pessoas que já nascem criminalizas para cometerem seus crimes.

05 setembro 2006

A importância do silêncio

Pense em alguém que seja poderoso. Essa pessoa briga e grita como uma galinha ou olha e silencia, como um lobo? Lobos não gritam. Eles têm a aura de força e poder. Observam em silêncio. Somente os poderosos, sejam lobos, homens ou mulheres, respondem a um ataque verbal com o silêncio. Além disso, quem evita dizer tudo o que tem vontade, raramente se arrepende por magoar alguém com palavras ásperas e impensadas. Exatamente por isso, o primeiro e mais óbvio sinal de poder sobre si mesmo é o silêncio em momentos críticos. Se você está em silêncio, olhando para o problema, mostra que está pensando, sem tempo para debates fúteis. Se for uma discussão que já deixou o terreno da razão, quem silencia mostra que já venceu, mesmo quando o outro lado insiste em gritar a sua derrota. Olhe. Sorria. Silencie. Vá em frente. Lembre-se de que há momentos de falar e há momentos de silenciar. Escolha qual desses momentos é o correto, mesmo que tenha que se esforçar para isso. Por alguma razão, provavelmente cultural, somos treinados para a (falsa) idéia de que somos obrigados a responder a todas as perguntas e reagir a todos os ataques. Não é verdade! Você responde somente ao que quer responder e reage somente ao que quer reagir. Você nem mesmo é obrigado a atender seu telefone pessoal. Falar é uma escolha, não uma exigência, por mais que assim o pareça. Você pode escolher o silêncio. Além disso, você não terá que se arrepender por coisas ditas em momentos impensados, como defendeu um pensador grego, mais de 300 anos antes de Cristo, ao afirmar: "Me arrependo de coisas que disse, mas jamais do meu silêncio". Responda com o silêncio, quando for necessário. Use sorrisos, não sorrisos sarcásticos, mas reais. Use o olhar, use um abraço ou use qualquer outra coisa para não responder em alguns momentos. Você verá que o silêncio pode ser a mais poderosa das respostas. E, no momento certo, a mais compreensiva e real delas.

Aldo Novak

01 setembro 2006

"O que mais te surpreende na humanidade"?

"Os homens... Porque perdem a saúde para juntar dinheiro, depois perdem dinheiro para recuperar a saúde... E por pensarem ansiosamente no futuro, esquecem do presente de tal forma que acabam por não viver nem o presente e nem o futuro. Vivem como se nunca fossem morrer... E morrem como se nunca tivessem vivido."

Dalai Lama

Meninas da Índia

- Cinco minutos a bordo é fardado!!!

Ouvi esta frase hoje de manhã quando fui ao Hospital Naval. Um tenente fardado falou para outro militar que estava à paisana para uma consulta. A frase foi em tom de brincadeira, mas reflete uma realidade na vida de muitos de nós. A carreira que escolhemos seguir, na maioria das vezes não escolhemos, define o comportamento e o tipo de vida que teremos ao longo da nossa passagem pela terra.
Os médicos serão médicos 24h por dia, assim como os advogados serão sempre alvo de consultas - mesmo quando não estiverem no escritório, o militar carrega no comportamento todas as regras e cerimônias dos quartéis - inclusive dentro de casa, o cineasta acha que tudo pode dar um bom filme - ele sabe que os maiores exemplos de heroísmo estão na vida real. Os jornalistas... bem, esses eu ainda não sei o que eles querem. Mas sei dos seus vícios: cigarros, café e notícias. Psicóticos com a sua principal ferramenta de trabalho: a língua portuguesa. E têm a esperança de um dia mudar de profissão.
Não acredito que existam profissões melhores que outras, mas tenho certeza que existem algumas mais gratificantes que as demais. Dentro das possibilidades de cada profissão sempre existe a busca pela descoberta do desconhecido. Somente algumas proporcionam esta recompensa.
Existem pessoas que são viciadas em trabalho, outras que prezam a preguiça, ainda existem àquelas que fazem do trabalho obrigação. Para a maioria dos trabalhadores comuns existem as estratégias para mantê-los sob controle. O tempo é determinado, folha de ponto; o espaço é limitado, baias; o trabalho e a conduta são vigiados, câmeras. A produção não pode parar nunca!!!
Tenho quase certeza que a melhor profissão mesmo é a do artista. O dançarino vive da expressão do seu corpo, o artista plástico da expressão dos seus quadros, o músico da capacidade de externar suas emoções.
Eu ainda vou escolher o que eu quero ser, mas já tenho a certeza que a minha velhice vai ser na beira da praia. Espero compartilhar histórias com alguns amigos que, assim como eu, nunca souberam o que queriam da vida, e, por isso, aproveitaram todas as possibilidades que ela ofereceu.

O.B.S: Meu pai está se aposentando. Vai embora para a Bahia, julgo que só agora ele pretende aproveitar a vida. Eu irei sempre que puder para ver o pôr do sol na beira da praia com ele.