28 março 2008

Hoje acordei embreagada, amor.
Seu cheiro ainda percorria minhas veias. Como pode? Questionava-me.
Uma leve dor de cabeça, eram muitos flashs de emoção.

Brasília, tarde nublada, 28 de março.

17 março 2008

Clemência

Vou pedir para te amar.
Baixinho, na penumbra.
Quero ver-te melhor pelas mãos.
Assim não errarei a precisão.

Vou pedir que me ame também.
De bom grado e bom coração,
erra o caminho não.

Vou pedir ainda um favor,
Atenda-me com todo calor,
Que nas veias pulsem vida,
Que no coração seja pungente o amor.

Bilhete

Quintana
Se tu me amas,
ama-me baixinho.

Não o grites de cima
dos telhados,
deixa em paz os passarinhos.

Deixa em paz a mim!

Se me queres,
enfim,

tem de ser bem devagarinho,
amada,

que a vida é breve,
e o amor
mais breve ainda.

16 março 2008

Querência


É dessa saudade que quero falar.
Desta procura desesperada pelos corredores da memória.
Te busco em cada instante caído e te acho em cada poema lido.
Mesmo distante sou capaz de ver cada passo, cada sorriso, mãos, olhares, bocas...
Conheço-te mais que tu mesmo.
Isso porque te observo enquanto reparas outros,
percebo seus risos, caras de bravo, de feliz, de indiferente, de desejo, de prazer.
Sei até do teu medo, tua carência e essa tua cara de inocência...
mesmo quando não há nada de inocente em você.
É muita querência, bem sei.
Querer-te bem de manhã, tarde e noite – principalmente- madrugada.
Tarde nem se fala. Cheiro, chuva, fome, chocolate, mãos e beijos.
Tardes dos desejos que me trazes,
Mas tarde, muito tarde, querido,
Vou dormir sem você.

14 março 2008

Congelou

Te vi mais uma vez. Estava lá. Caindo daquela montanha. Num instante qualquer. Um flash sobrou na minha mémoria.

Diário de bordo

Enquanto isso, aqui na Terra nossa humanidade é apaixonada pelas ínfimas diferenças que tornam cada presença peculiar e única, ao passo que, tudo que nos é semelhante e comum ganha de goleada. Para quem gosta de argumentos físicos, isto se revela em que, geneticamente, 99,9% dos genes são iguais em todos nós, e só 0,1% diferente. Nós queremos que nos entendam e aceitem por esta ínfima porcentagem, e mais, queremos que este entendimento signifique que a pequena diferença seja universalizada, tornando-se dominante e, assim, com plena satisfação passamos a vida promovendo nada além de nós mesmos. Enquanto isso, a Vida produz a si mesma, nos usando como testemunhas. Vida é a testemunha, Vida é o testemunhado, e Vida, também é o próprio ato de testemunhar.

Quiroga

10 março 2008

Amigos, um pouco de Quintana para adoçar a semana...

"No fim, tu hás de ver que as coisas mais leves são as únicas que o vento não conseguiu levar: um estribilho antigo, um carinho no momento preciso, o folhear de um livro de poemas, o cheiro que tinha um dia o próprio vento..."

Mário Quintana

05 março 2008

Timidez

Cecília Meireles



Basta-me um pequeno gesto,
feito de longe e de leve,
para que venhas comigo
e eu para sempre te leve...

— mas só esse eu não farei.

Uma palavra caída
das montanhas dos instantes
desmancha todos os mares
e une as terras mais distantes...

— palavra que não direi.

Para que tu me adivinhes,
entre os ventos taciturnos,
apago meus pensamentos,
ponho vestidos noturnos,

— que amargamente inventei.

E, enquanto não me descobres,
os mundos vão navegando
nos ares certos do tempo,
até não se sabe quando...

— e um dia me acabarei.

04 março 2008

Paixão

Coração cansado de voar pelo vasto campo da liberdade.
Queira ele se aprisionar um pouco nas jaulas da paixão.
Oh, dor que causa estas grades.
Parecem feitas de aço, mas não passam é um material volátil.
Evopora com tempo.
Hummm...
Forte, porém efêmera. Assim é a paixão?
E quanto tempo dura?
É fenômeno do cérebro?
O que acontece depois?
Onde armazenar tanta energia fabricada por este sentimento tão intenso, verdadeiro, humano?
É a paixão o sentimento mais humano?
Então precisamos sublimar a paixão para evoluir, é isso?
A paixão é um sentimento egoísta.
Acho que também não tenho certeza disso.
Ela parece tão generosa...

03 março 2008

Casa da Montanha

Agosto de 2007

Assim como as cachoeiras mais belas, a casa era de difícil acesso. Ao longo do caminho erramos várias vezes o endereço. A referência era um mapa rabiscado no papel. Embora várias tentativas frustradas, o nervosismo não vencia a alegria de estar a poucos minutos de nos hospedarmos na Casa da Montanha, como se chamava, fácil de adivinhar o porquê. Depois de optarmos várias vezes pelo lado errado da bifurcação, encontramos a casa numa rua sem saída. A placa pendurada a identificava pelo nome.

O visual era de arrepiar. Seria inútil tentar descrever. Do alto daquela montanha, ficamos deslumbrados com tantas outras montanhas e pouquíssimas casas. Descemos as escadas e o teor das nossas escassas frases eram exclamações.

A lareira no meio da sala, com certeza fazia parte do imaginário de todos nós, não pensei duas vezes: corri para acendê-la. Alguém tentou me ajudar, mas logo foi repreendido pelo terceiro: - Deixa ela curtir isso! Essa era a minha única onda.

O cheiro revelava limpeza recente, foi preparada para nos receber.

Decoração rústica, móveis de madeira. Uma enorme cômoda ficava no canto da sala. Abri gaveta por gaveta. E lá, na última, o tesouro... discos de vinil. O repertório não podia não podia ser melhor. De Bethoven a Chico Buarque. Não precisavámos de mais nada. Ainda bem que a televisão antiga estava quebrada.

E assim habitamos por dias aquela casinha. Estávamos juntos: na hora de dormir, na hora de acordar, de tomar café ou de comer founde de chocolate, este não tinha horário. Mas, mesmo unidos, também contemplamos a solidão. Preservávamos a individualidade. A casa tinha tanto silêncio que éramos capazes de ouvir o silêncio do outro e compartilhávamos este momento, pois era bom.

A Casa da Montanha ficava ao lado da casa da Branca de Neve e dos Sete Anões. E assim, como num conto de fadas, sentíamos no ar e no coração o amor que habitava aquele lar. O riso fluía fácil, assim como o companheirismo, a generosidade e o carinho. Quem ali viveu foi feliz, quem por ali passou, viveu dias indescritíveis. Tudo ali soa poesia, porém não me arrisco a tentar juntar estrofes.

Fora a saudade, guardamos de lembrança a certeza de que devolvemos tanto amor quanto recebemos daquele lar e que a próxima pessoa que abrir aquela porteira, sentirá - tanto quanto nós - uma brisa leve no rosto que fará lembrar um doce beijo de um querido.

A verdade

"Não se acolhe a verdade na vida, como quem engaiola uma ave na floresta. A verdade é luz. Somente o coração alimentado de amor e o cérebro enriquecido de sabedoria podem reflitir-lhe a grandeza".

Imanuel