31 outubro 2008

Todo sono que essa vida dá

Esta noite, estilhacei a minha coragem contra um muro de concreto. Reuni toda ela, insuflei o peito e apostei a chance de ultrapassá-lo. O resultado é uma dor visceral que sinto neste momento. A cabeça parece pesar mais do que consigo suportar e o coração não deve estar maior que uma ameixa-seca.

Fica o embargo na garganta, de quem não conseguiu dizer tudo, nem terá outra ocasião. Ainda permanecerá por muito a difícil tarefa de esconder a cara de derrota para os queridos e as feridas expostas de uma luta comigo mesmo, travada durante meses.

De volta pra casa, a vontade de pouca conversa e a discrição de ir para cama muito antes do comum. E lá, se encolher como um caracol, habitar o interior do meu interior e aceitar o abraço do edredom com um olhar um pouco assustado e certo medo de viver.

Esperar que o sono seja profundo e a noite longa, mas ao amanhecer, que o tempo passe logo, para que eu possa voltar novamente para o mundo dos sonhos, onde estou segura de mim mesmo.

15 outubro 2008

Compasso

(Ricardo MacCord / Angela Ro Rô)

É o que pulsa o meu sangue quente
É o que faz meu animal ser gente
É o meu compasso mais civilizado e controlado

Estou deixando o ar me respirar
Bebendo água pra lubrificar
Mirando a mente em algo producente
Meu alvo é a paz

Vou carregar de tudo vida afora
Marcas de amor, de luto e espora
Deixo alegria e dor ao ir embora

Amo a vida a cada segundo
Pois pra viver eu transformei meu mundo
Abro feliz o peito
É meu direito!

14 outubro 2008

Lenda

A cachoeira parecia se espremer naquela manhã. Queria derramar todas aquelas águas que amargavam as margens do rio. Uniu tanta força que quase causou uma tromba d’água lá embaixo. Porém a sábia natureza deu um jeito de se arrumar rapidinho. Pelo menos lá por baixo, o grande volume de água de dispersou ligeiro, escorreu pelos riozinhos e fez a alegria de algumas comunidades que viam correr nos últimos dias líquido turvo e fraco, nem mais se podia chamar de água.

Não é nada, não é nada... e já brota das nascentes também nova força para embelezar a cachoeira. Não demorou uma semana e as plantas já sorriam, as flores estavam mais vivas e as frutas com mais viço.

Não demora também dos namorados voltarem a se banhar por lá. A moça diz que a pele fica mais macia e o rapaz fica todo empolgado com as maravilhas para a virilidade.

Ninguém sabe explicar porque as águas se amargaram de um dia pro outro, reza lenda que foi um desamor, ora, mas estão sempre a causar o dissabor.