Parafraseando Rubem Braga: "Sempre tenho confiança de que não serei maltratada na porta do céu, e mesmo que São Pedro tenha ordem para não me deixar entrar, ele ficará indeciso quando eu lhe disser em voz baixa: 'Eu sou lá de Itaparica'..."
29 dezembro 2008
A viagem de Santo Antônio
"Comer, Rezar e Amar" no finalzinho de 2008, um ano de muitas tentações.
Lubrificante
Céu ou inferno?
31 outubro 2008
Todo sono que essa vida dá
Esta noite, estilhacei a minha coragem contra um muro de concreto. Reuni toda ela, insuflei o peito e apostei a chance de ultrapassá-lo. O resultado é uma dor visceral que sinto neste momento. A cabeça parece pesar mais do que consigo suportar e o coração não deve estar maior que uma ameixa-seca.
Fica o embargo na garganta, de quem não conseguiu dizer tudo, nem terá outra ocasião. Ainda permanecerá por muito a difícil tarefa de esconder a cara de derrota para os queridos e as feridas expostas de uma luta comigo mesmo, travada durante meses.
De volta pra casa, a vontade de pouca conversa e a discrição de ir para cama muito antes do comum. E lá, se encolher como um caracol, habitar o interior do meu interior e aceitar o abraço do edredom com um olhar um pouco assustado e certo medo de viver.
Esperar que o sono seja profundo e a noite longa, mas ao amanhecer, que o tempo passe logo, para que eu possa voltar novamente para o mundo dos sonhos, onde estou segura de mim mesmo.
15 outubro 2008
Compasso
É o que pulsa o meu sangue quente
É o que faz meu animal ser gente
É o meu compasso mais civilizado e controlado
Estou deixando o ar me respirar
Bebendo água pra lubrificar
Mirando a mente em algo producente
Meu alvo é a paz
Vou carregar de tudo vida afora
Marcas de amor, de luto e espora
Deixo alegria e dor ao ir embora
Amo a vida a cada segundo
Pois pra viver eu transformei meu mundo
Abro feliz o peito
É meu direito!
14 outubro 2008
Lenda
Não é nada, não é nada... e já brota das nascentes também nova força para embelezar a cachoeira. Não demorou uma semana e as plantas já sorriam, as flores estavam mais vivas e as frutas com mais viço.
Não demora também dos namorados voltarem a se banhar por lá. A moça diz que a pele fica mais macia e o rapaz fica todo empolgado com as maravilhas para a virilidade.
Ninguém sabe explicar porque as águas se amargaram de um dia pro outro, reza lenda que foi um desamor, ora, mas estão sempre a causar o dissabor.
28 setembro 2008
Guardião de memórias
Mãos entre as pernas, sorriso constrangido, nem parece marido.
O coração bate forte, é o medo do flash.
O guardião de memórias não revelou, porém, o ciúme.
Escancarado com a implicância incomum.
Não revelou o carinho apertando a mão, apertava o peito também.
Não revelou a vontade de estar perto.
Não revelaria a vontade de dizer que ama demais aquela companhia.
Que no dia seguinte o telefone tocaria.
E, sem pensar, ambos se entregariam ao carinho dos abraços.
Sem saber quando seria a próxima vez.
Por isso, se amariam como se fosse a última.
Nestes encontros, alguém sempre quer colocar o ponto final:
Nas angústias, medos, fofocas, dores...
Alguém sempre quer mais prazer.
É uma relação desigual, ambos sabem.
Mas falar pra quê?
Materializar jamais.
Deixemos as dores noutros quartos.
Não num quarto de motel.
22 setembro 2008
Amarra o teu arado a uma estrela
Se os frutos produzidos pela terra
Ainda não são
Tão doces e polpudos quanto as peras
Da tua ilusão
Amarra o teu arado a uma estrela
E os tempos darão
Safras e safras de sonhos
Quilos e quilos de amor
Noutros planetas risonhos
Outras espécies de dor
Se os campos cultivados neste mundo
São duros demais
E os solos assolados pela guerra
Não produzem a paz
Amarra o teu arado a uma estrela
E aí tu serás
O lavrador louco dos astros
O camponês solto nos céus
E quanto mais longe da terra
Tanto mais longe de Deus
19 setembro 2008
04 setembro 2008
Castelos
Incitando minha agonia, as horas quase correram para trás. Dei mais corda no velho relógio da sala, na tentativa frustrada de fazer acelerar o dia. Por fim, venci o tempo, os contra tempos, desintegrei minha decência, abri portas que não devia e destruí paredes para estar ao seu lado.
A intenção era surpreender e bati de frente com a realidade: você não me esperava. Então me dei conta de que sua vida segue sem mim. Voltei os quilômetros percorridos com um bolinho nas amídalas e a certeza de que os castelos imaginados são bem mais coloridos que os de verdade.
É! Talvez não deva mais construir castelos. Mas se um dia voltar a fazê-lo, cuidarei para usar menos lápis de cor.
Ju
* Uma homenagem a sumida Ju, que escreve com honestidade os pensamentos femininos. E com este texto expressa os meus.
31 agosto 2008
Katrina
29 agosto 2008
28 agosto 2008
de passagem
Saudade, ah essa bandida! "Deixa a gente comovido como o diabo"
Vai passar, vai passar...
Sempre
Clarice Lispector
13 agosto 2008
Desassossego
05 agosto 2008
Ela sempre vem...
Alguns instantes depois, percebi a sua presença já nos meus aposentos e a vi vasculhar minhas memórias, minhas esperanças, minhas tristezas, também as minhas dores, guardadas junto com os amores. Vi também sua elegância em não mexer no baú dos meus sonhos, estava apreensiva com a sua aproximação dele. Mas ela olhou por fora e o viu tão bem enfeitado, colorido, que acredito que ponderou que estava tudo certo com ele.
Dessa vez resolvi não interferir. Pra quê? Deixa ela levar embora o que é necessário. Quebrar algumas coisas, consertar outras, ela e o tempo são expert nisso. Da última vez que tentei imterrompe-la só perdi dias valiosos da minha vida, sem nada a aprender. Fiquei ali, mastigando aqueles velhos frutos que já não valiam de nada. Já tinham perdido o viço e o sabor.
Ela foi até rápida. Voltou rápido também desde a última visita. Essa mudança tá cada dia mais presente. É assim nessa fase da vida? Que fase estou?
- Ei, ei... volta aqui! Não me deixa sem resposta. (Pulei mais que depressa da cama).
E as cortinas já balançavam novamente com a ventania que ela provoca por onde passa.
15 julho 2008
Desde de então
Desde que você me descobriu com o sopro da sua ventania,
Desde que suas mãos tocaram meu corpo,
Há uma brasa queimando incessantemente dentro de mim.
14 julho 2008
Tic-tac
Faz muito frio debaixo do meu coberto este julho de inverno. As manhãs têm marcado 7° graus, e a preguiça tem registrado presença.
Enquanto isso, a sua coxa sobre as minhas costas tem sido apenas lembranças distantes. Devo registrar mais esses momentos, quem sabe assim, minha mente te retém um pouco mais.
É tudo tão rápido, o vento sopra, eu olho pra trás e shuuuuuuuuuuuuuuuaaaa... as folhas varrem você de mim. E já, já preciso urgentemente de outra dose de você.
29 junho 2008
Sinal vermelho
Tem gente que reclama das escolhas, mas sabe, depois de ter de renunciar a você, tenho achado fichinha escolher para onde seguir. Problema mesmo é deixar alguns mimos pelo caminho. Seguir em frente carece de dar passos. Tudo bem, isso parece muito óbvio, mas você me deixa congelada no tempo.
Final de domingo, junho de 2008.
30 maio 2008
Copo cheio
Cadê a brasa dos teus olhos?
Longe acompanha com o olhar, o ciúme não revela. Ao contrário, provoca.
Erra bonito. Desperta sentimentos pequenos, desperta uma avaliação superior.
Seria bem mais fácil estar do meu lado.
Que olhar é este? Cadê aquela chama que me iluminava?
Agora sinto a frieza, o distanciamento e a chama do ciúme.
Tenho culpa, bem sei.
Por não te amar como precisas.
Mas antes erra você, que não deixa.
Amor, amor... vi a nossa foto.
Estavámos lindos, mas você não estava lá.
... queria que fosse possível.
Dormir todos os dias no aconchego dos seus braços.
Queria te ter todo dia, isso você já sabia?
Vai, escuta direito: É ai!
Essa dor que machuca meu peito.
Devagar.
- Tá, Lê. Bem devarinho.
Brasília, sábado cinza de abril, 2008.
08 maio 2008
Todos traem
O dissimulado distrai
O tímido retrai
O safado subtrai
O curioso extrai
O reprimido contrai
O deslocado abstrai
O alegre descontrai
De um modo ou de outro, todos traímos
Às vezes sem querer
outras pelo crime
Às vezes sem saber
outras descobrimos
Às vezes sem prazer
outras é sublime
Alessandro Uccello
Sem palavras
A artista Nadia Plesner criou esta imagem e estampou em camisetas e posters como uma forma de chamar atençao para a fome e o genocidio em Darfur, na Africa. Ela virou alvo de um processo aberto pela grife de luxo Louis Vuitton. A marca nao gostou de ver uma bolsa sua reproduzida no trabalho de Plesner. A imagem de um menino africano carregando um cachorrinho no colo e uma bolsa pendurada no braço é uma critica à atençao que a midia dá a celebridades.
04 maio 2008
Uma borboleta no meu banheiro
Horas depois ela continuava lá, parada, imóvel no mesmo lugar. Ainda pensei em tirá-la dali, mas desistia sempre depois de pensar na logística. Dias se passaram, até esqueci, estava quase camuflada da cor da porta. Ixi! Secou e morreu, mas ainda a preguiça de desistituí-la do túmulo, afinal era a minha porta. E não é que, neste domingo, uma borboleta nasceu no meu banheiro! Fantástico!
Lá estava ela linda e verde ao lado do casulo. Fiquei encantada é claro, uma vida se transformou ali, bem diante de qualquer olhar atento. Pensar que isto acontece a todo instante, pensar que também nós, meninas, passamos pela mesma metamorfose e nos tornamos lindamente mulheres... Pensar que ainda assim tantas pessoas perdem este espetáculo...
02 maio 2008
Ideal ou possível
P.S: Feriado na quinta, depois do filme e antes do Boliche. O filme? Claro. Cidade do Anjos.
07 abril 2008
Sobre a paixão - I
"Paixão é uma infinidade de ilusões que serve de analgésico para a alma. As paixões são como ventanias que enfurnam as velas dos navios, fazendo-os navegar; outras vezes podem fazê-los naufragar, mas se não fossem elas, não haveriam viagens nem aventuras nem novas descobertas."
28 março 2008
17 março 2008
Clemência
Baixinho, na penumbra.
Quero ver-te melhor pelas mãos.
Assim não errarei a precisão.
Vou pedir que me ame também.
De bom grado e bom coração,
erra o caminho não.
Vou pedir ainda um favor,
Atenda-me com todo calor,
Que nas veias pulsem vida,
Que no coração seja pungente o amor.
Bilhete
Não o grites de cima
dos telhados,
deixa em paz os passarinhos.
Deixa em paz a mim!
Se me queres,
enfim,
tem de ser bem devagarinho,
amada,
que a vida é breve,
e o amor
mais breve ainda.
16 março 2008
Querência
Desta procura desesperada pelos corredores da memória.
Te busco em cada instante caído e te acho em cada poema lido.
Mesmo distante sou capaz de ver cada passo, cada sorriso, mãos, olhares, bocas...
Conheço-te mais que tu mesmo.
Isso porque te observo enquanto reparas outros,
percebo seus risos, caras de bravo, de feliz, de indiferente, de desejo, de prazer.
Sei até do teu medo, tua carência e essa tua cara de inocência...
mesmo quando não há nada de inocente em você.
É muita querência, bem sei.
Querer-te bem de manhã, tarde e noite – principalmente- madrugada.
Tarde nem se fala. Cheiro, chuva, fome, chocolate, mãos e beijos.
Tardes dos desejos que me trazes,
Mas tarde, muito tarde, querido,
Vou dormir sem você.
14 março 2008
Congelou
Diário de bordo
Quiroga
10 março 2008
05 março 2008
Timidez
Basta-me um pequeno gesto,
feito de longe e de leve,
para que venhas comigo
e eu para sempre te leve...
— mas só esse eu não farei.
Uma palavra caída
das montanhas dos instantes
desmancha todos os mares
e une as terras mais distantes...
— palavra que não direi.
Para que tu me adivinhes,
entre os ventos taciturnos,
apago meus pensamentos,
ponho vestidos noturnos,
— que amargamente inventei.
E, enquanto não me descobres,
os mundos vão navegando
nos ares certos do tempo,
até não se sabe quando...
— e um dia me acabarei.
04 março 2008
Paixão
Queira ele se aprisionar um pouco nas jaulas da paixão.
Oh, dor que causa estas grades.
Parecem feitas de aço, mas não passam é um material volátil.
Evopora com tempo.
Hummm...
Forte, porém efêmera. Assim é a paixão?
E quanto tempo dura?
É fenômeno do cérebro?
O que acontece depois?
Onde armazenar tanta energia fabricada por este sentimento tão intenso, verdadeiro, humano?
É a paixão o sentimento mais humano?
Então precisamos sublimar a paixão para evoluir, é isso?
A paixão é um sentimento egoísta.
Acho que também não tenho certeza disso.
Ela parece tão generosa...
03 março 2008
Casa da Montanha
Assim como as cachoeiras mais belas, a casa era de difícil acesso. Ao longo do caminho erramos várias vezes o endereço. A referência era um mapa rabiscado no papel. Embora várias tentativas frustradas, o nervosismo não vencia a alegria de estar a poucos minutos de nos hospedarmos na Casa da Montanha, como se chamava, fácil de adivinhar o porquê. Depois de optarmos várias vezes pelo lado errado da bifurcação, encontramos a casa numa rua sem saída. A placa pendurada a identificava pelo nome.
O visual era de arrepiar. Seria inútil tentar descrever. Do alto daquela montanha, ficamos deslumbrados com tantas outras montanhas e pouquíssimas casas. Descemos as escadas e o teor das nossas escassas frases eram exclamações.
A lareira no meio da sala, com certeza fazia parte do imaginário de todos nós, não pensei duas vezes: corri para acendê-la. Alguém tentou me ajudar, mas logo foi repreendido pelo terceiro: - Deixa ela curtir isso! Essa era a minha única onda.
O cheiro revelava limpeza recente, foi preparada para nos receber.
E assim habitamos por dias aquela casinha. Estávamos juntos: na hora de dormir, na hora de acordar, de tomar café ou de comer founde de chocolate, este não tinha horário. Mas, mesmo unidos, também contemplamos a solidão. Preservávamos a individualidade. A casa tinha tanto silêncio que éramos capazes de ouvir o silêncio do outro e compartilhávamos este momento, pois era bom.
A Casa da Montanha ficava ao lado da casa da Branca de Neve e dos Sete Anões. E assim, como num conto de fadas, sentíamos no ar e no coração o amor que habitava aquele lar. O riso fluía fácil, assim como o companheirismo, a generosidade e o carinho. Quem ali viveu foi feliz, quem por ali passou, viveu dias indescritíveis. Tudo ali soa poesia, porém não me arrisco a tentar juntar estrofes.
Fora a saudade, guardamos de lembrança a certeza de que devolvemos tanto amor quanto recebemos daquele lar e que a próxima pessoa que abrir aquela porteira, sentirá - tanto quanto nós - uma brisa leve no rosto que fará lembrar um doce beijo de um querido.
A verdade
28 fevereiro 2008
Doce Veneno
Mas é só isso? Não, tem muito mais. Como poderia resumir o desassossego que sua presença me causa. Explicar que a paz que você me tira é essencial para eu viver, quero dizer que me tiras um pouquinho de vida, entende?! Ai... como é bom morrer de vez em quando. O que fazer com este vício que despertas em mim? Não há antídoto? Hummm, será que o remédio é tão bom quanto o vício?
30 janeiro 2008
Não volte
Pedir que se retire da minha vida, levando consigo todos os papéis de parede que estampou na minha memória. Chega de passear por aqui retocando cada beijo, cada cheiro e carinho... para que nunca sofram com os efeitos do tempo. Carregue também aquela velha vitrola - que não cansa de tocar velhas canções de amor, com todo aquele chiado que lhe é familiar. Na saída, diminua o volume das ondas do mar, elas já não terão graça sem você aqui.
Não me faça mais perguntas íntimas, o meu constragimento parece aumentar o seu poder sobre minhas emoções. Também não seja simpático com as minhas amigas, elas não carecem do seu sorriso. Queira por favor comunicar aos seus pais que não mas habita a minha casa, trate de passar-lhes outro telefone. Na semana posterior, quando já tiver superado a sua ausência, colocarei um novo anúncio no jornal... PROCURA-SE UM AMOR QUE NÃO DESPERTE O AMOR!