07 julho 2007

Fragrância


O perfume foi o único fantasma que restou. Precisava enfrentá-lo, estava certa disso. Desde aquele último momento parei de usá-lo. O perfume era meu, mas me lembrava ele, que na época não usava nada para perfumar o corpo.

O cheiro que exalava dele era cheiro de gente. Cheiro de pele. Cheiro que me atraia, grudava no meu corpo e impregnava minha memória. Esse passou a ser o meu castigo. À medida que colava meu corpo ao seu, transferia-lhe - além dos meus sentimentos – o meu perfume. Que sedento aproveitava cada olor. Agora estava novamente de frente a este fantasma. O cheiro dele, ou melhor, o cheiro meu e, por um tempo, o cheiro nosso.

Pus o frasco de perfume em cima da penteadeira. Olhava-o como quem repreende um desejo. Aquela venha angústia voltava a causar calafrios no estômago. Velho castigo! O medo era de ressuscitar o sentimento.

Voltei a usá-lo. Não estava sendo justa comigo. E numa tarde, enquanto caminhava, soltei os cabelos presos desde a manhã, quando sai de casa. Ao despencar sobre os meus ombros, as madeixas trouxeram-me também o cheiro que tanto me fazia lembrar de nós.

Lembrei do seu olhar de repreensão quando ameacei mudar de perfume. Acho que já por pura intuição imaginei, àquele tempo, que não deveria ligar meu cheiro ao seu. Tarde demais. O estrago já estava feito. Lembro de ti porque a fragrância é eterna, amor!

Sim. O cheiro é o mesmo de sempre, porque emana da alma!

Um comentário:

Anônimo disse...

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