03 março 2008

Casa da Montanha

Agosto de 2007

Assim como as cachoeiras mais belas, a casa era de difícil acesso. Ao longo do caminho erramos várias vezes o endereço. A referência era um mapa rabiscado no papel. Embora várias tentativas frustradas, o nervosismo não vencia a alegria de estar a poucos minutos de nos hospedarmos na Casa da Montanha, como se chamava, fácil de adivinhar o porquê. Depois de optarmos várias vezes pelo lado errado da bifurcação, encontramos a casa numa rua sem saída. A placa pendurada a identificava pelo nome.

O visual era de arrepiar. Seria inútil tentar descrever. Do alto daquela montanha, ficamos deslumbrados com tantas outras montanhas e pouquíssimas casas. Descemos as escadas e o teor das nossas escassas frases eram exclamações.

A lareira no meio da sala, com certeza fazia parte do imaginário de todos nós, não pensei duas vezes: corri para acendê-la. Alguém tentou me ajudar, mas logo foi repreendido pelo terceiro: - Deixa ela curtir isso! Essa era a minha única onda.

O cheiro revelava limpeza recente, foi preparada para nos receber.

Decoração rústica, móveis de madeira. Uma enorme cômoda ficava no canto da sala. Abri gaveta por gaveta. E lá, na última, o tesouro... discos de vinil. O repertório não podia não podia ser melhor. De Bethoven a Chico Buarque. Não precisavámos de mais nada. Ainda bem que a televisão antiga estava quebrada.

E assim habitamos por dias aquela casinha. Estávamos juntos: na hora de dormir, na hora de acordar, de tomar café ou de comer founde de chocolate, este não tinha horário. Mas, mesmo unidos, também contemplamos a solidão. Preservávamos a individualidade. A casa tinha tanto silêncio que éramos capazes de ouvir o silêncio do outro e compartilhávamos este momento, pois era bom.

A Casa da Montanha ficava ao lado da casa da Branca de Neve e dos Sete Anões. E assim, como num conto de fadas, sentíamos no ar e no coração o amor que habitava aquele lar. O riso fluía fácil, assim como o companheirismo, a generosidade e o carinho. Quem ali viveu foi feliz, quem por ali passou, viveu dias indescritíveis. Tudo ali soa poesia, porém não me arrisco a tentar juntar estrofes.

Fora a saudade, guardamos de lembrança a certeza de que devolvemos tanto amor quanto recebemos daquele lar e que a próxima pessoa que abrir aquela porteira, sentirá - tanto quanto nós - uma brisa leve no rosto que fará lembrar um doce beijo de um querido.

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