18 outubro 2006

Brasília: Capital do Rock

Quando estou fora da Capital e numa conversa informal o assunto em pauta é cultura, ouço logo a exclamação de alguém que se julga bem informado: "Ah, Brasília é a Capital do rock!" Diante de alguns que insistem em opinar sobre tudo e todos, concluo que é horrível falar da própria ignorância. Dizer que o Distrito Federal é a Capital do Rock e reduzir a riqueza dos sons que ecoam do Planalto a um único estilo musical é no mínimo uma grosseira, como toda generalização. Aqui a cultura se manifesta por personalidades, gostos musicais, tipos físicos, emoções e desejos extremamente distintos. E, o melhor de tudo, num mesmo espaço geográfico. Por contemplar realidades e essências impalpáveis, especialmente em relação a cultura, o sentido de conservação neste ambiente deve ser primordial. Brasília tem uma importante missão a cumprir.

Cheguei ao Distrito Federal há dois anos. Morar aqui me proporcionou contemplar o quão é bonito o nosso país. Sou presenteada com a convivência com cearenses, cariocas, mineiros, gaúchos, maranhenses, goianos e gente do Brasil a fora. Ao contrário de uma postura anterior, já não discuto espaço físico com ninguém, aprendi que é muito mais válido exaltar a beleza e as qualidades de cada lugar e usar a discussão como ferramenta para melhorar o espaço em que se vive. Com influências culturais tão diversas, este lugar foi erguido em meio a paisagem do cerrado. Daí aprendi aqui que o espaço que se ocupa no mapa não define que sejamos honestos ou "malandros", estigma carregado pelos cariocas ou mesmo trabalhadores ou "preguiçosos", estigma carregado pelos baianos.

Lembro-me de uma metáfora utilizada por Gilberto Gil num discurso sobre produção cultural. Gil comparou a produção cultural a bacias hidrográficas. Em relação a Brasília o que essa metáfora pode ilustrar é que a Capital Federal tem a cultura irrigada por todas as regiões do país. "Imaginem um rio. Um rio com suas águas correntes e cristalinas cruzando um, dois, três, quatro, às vezes dez vilarejos, municípios ou até cidades. Um rio distribuindo suas águas, trazendo vida e progresso para todos esses municípios com suas populações." Disse Gil.

O rock das bandas Legião Urbana, Capital Inicial e Plebe Rude hoje sede espaço para o hip-hop, característico da Ceilândia; para o samba, produzido no Cruzeiro; para o choro, já tradicional no Clube do Choro. Assim como também já despontou para o reggae do Natiruts e hadcore dos Raimundos. E se estamos falando de cultura, por que não falar do Boi do Seu Teodoro? O bumba-meu-boi é uma das mais antigas tradições culturais do Brasil, muito típica do norte e do nordeste do país. Seu Teodoro, que mora em Sobradinho, veio a primeira vez na Capital em 1961 a convite do poeta Ferreira Gullar para trazer seu grupo de Boi para as comemorações do primeiro aniversário da Nova Capital. Em 1962 mudou-se para a cidade. Esse maranhense dedica sua vida a preservar e propagar uma das mais belas, e já candanga, tradições.

No dia 20 de outubro, do ano passado (2005), a Conferência da UNESCO, em Paris, aprovou a Convenção Internacional de Proteção e Promoção da Diversidade Cultural, um documento vital para a cultura na era da globalização. Sua elaboração e aprovação se devem, em grande parte, ao trabalho do Brasil, ao lado de países como Espanha, França, Canadá, os vizinhos do Mercosul e os países da África. Nessa corrida mundial para a preservação da cultura das mais variadas partes do planeta, eu enxergo Brasília como um micro-sistema que é exemplo para todo Brasil. Não conheço um lugar que abrigue tanto, de forma tão justa, tanta diversidade cultural. Isso se deve a construção desta Capital. A mão de obra veio de todos os cantos do país. A exemplo do Brasil que foi construído por mãos de todas os cantos do planeta. Talvez por isso, tenhamos hoje um grau de diversidade tão raro e devemos assim preservá-lo.

2 comentários:

Anônimo disse...

Let,
Muito bom seu texto sobre cultura e sobre a diversidade que rola em Brasília. Eu como brasiliense (e filha de uma cearense com um goiano) sempre convivi com essa mistura de culturas, sotaques, comidas típicas, e acho isso fantástico. Lindo texto.
Bjos

Anônimo disse...

Senso Comum...
Não acrescentou nada.