14 dezembro 2006

Nunca fui de despedidas

Era uma sexta-feira chuvosa. Na noite anterior ele havia implorado para que eu passasse o final de semana ao seu lado, de pirraça dizia não seguidas vezes - no fundo a minha vontade latejava tanto quanto a dele. Fim de expediente, resolvo ligar.
- Oi, - disse - quero dormir contigo. Mas só ouvi um silêncio do outro lado e um seguido: tum, tum, tum...

Não sei o que pensar, nem há tempo para pensar nada, logo em seguida o meu celular toca, é ele. - Desculpa, estava na frente do Capitão. O que você disse? Respondi repetindo a frase. Ele ria sem parar, foi o bastante. - Me pega no shopping daqui há uma hora! Ele concordou.

Cheguei duas horas e 40 minutos depois de desligar o telefone. Uma amiga carente me pegou para desabafar, não poderia revelar o meu compromisso, ela não aprovaria. O vejo de costas, mãos no bolso, respiro fundo e me aproximo com a cara e coragem. Ele parece que sente a minha aproximação e se vira. Depois do abraço pedi desculpas, ele não se importou, revelou que a única preocupação era com a minha chegada. Não era muito confiável ao marcar compromissos.

Chegamos no seu apartamento já muito tarde, no caminho uma discussão pois ele não havia me revelado que estava de serviço no dia seguinte. Iria embora, mas resolvi ficar. Às cinco da manhã, sonolenta, vejo uma movimentação estranha no quarto. Não dei importância. Ele se levantou, tomou banho, se trocou e saiu. Constatei depois de alguns minutos que realmente estava sozinha na cama. Levanto e me assusto, estou trancada no seu apartamento sozinha.

Voltei para cama, mas não consegui mais dormir. Ele não seria louco de ir trabalhar e me aprisionar em casa. Levantei novamente, percorri o apartamento olhando as mínimos detalhes, nada muito íntimo, cozinha e sala. Tomo banho e vou estudar um material da faculdade, tento me sentir natural naquela situação. Não vejo o tempo passar, quase 8h e ouço passos no corredor. Agora o ouço o barulho das chaves e vejo o trinco da porta rodar. Ri ao vê-lo encharcado quando abriu a porta. Chovia muito. Não ousou me tocar.

Contou que havia ido ao quartel trocar o serviço com alguém, era para se redimir do erro. Preparou açaí para nós, fez lasanha para o almoço. O dia chuvoso passou rápido. Torçemos para que o domingo fosse de sol, queríamos ir a praia. Triste ilusão. O domingo amanheceu cinza. Fui para casa no final da tarde. Estava feliz.

Na segunda troquei o celular e começei em um novo emprego, iniciei uma nova fase da minha vida. Nada de explicações. Passaram-se dois meses e nenhum contato. Resolvi ligar, no dia seguinte era meu aniversário. Percebo o seu susto do outro lado da linha. Expliquei tudo que deveria ter explicado naquele final de semana, as minhas necessidades eram outras. Ele não me perdoou, disse que eu havia bagunçado a sua vida, depois o deixei para arrumar sozinho. Ele ainda catava coisas espalhadas nos sentimentos. Isso doeu em mim. Sabia que não tinha o direito. Avisei do meu aniversário no dia seguinte e passei os meus novos telefones.

Passei o dia todo fora. Ao chegar em casa piscavam mensagens na secretária eletrônica. Ouvi compulsivamente todas na esperança de escutar a sua voz. Chego ao fim e nada, ele realmente não havia me perdoado. Vou até o quarto, guardo bolsa, retiro os sapatos. A consciência pesa, pela primeira vez me arrependi de uma atitude, nessas minhas "brincadeiras" perdi alguém. Volto para sala atravessando a cortina que a separa do outro cômodo. Olho para o telefone, me aproximo, sento no chão sobre o tapete e repasso novamente cada mensagem, agora ouviria com mais atenção. E lá estava ela, o meu melhor presente. Um silêncio inicial, um suspiro e, enfim, ouço a sua voz. A pronúncia do meu nome soa como música para os meus ouvidos. Ele era uma cavalheiro, não deixaria de ligar. Nunca mais nos falamos. As palavras daquela doce ligação ecoaram nos meus ouvidos durante dias, mas não consegui lhe retornar para avisar que iria embora definitivamente, e revelar que este era o real motivo do meu contato.

Um comentário:

Anônimo disse...

Nossa, quem é o cara??? HEHEEH