12 setembro 2006

A violência nossa de cada dia

Ouço inúmeras pessoas bem formadas e informadas repetirem que a violência emana da favela para o "asfalto". Estou cada dia mais em dúvida sobre isso, em verdade, um dia também já acreditei nesta teoria: a pobreza, a desigualdade social, a falta de educação e de cultura geram a barbárie da violência, que é comum no dia-a-dia das comunidades carentes. Porém, cada dia mais e mais, lemos nas manchetes de jornais, ouvimos no rádio e assistimos na TV as notícias dos crimes mais bem articulados possíveis, e ainda por cima, planejados e executados por pessoas que em nada são carentes.

Sempre defendi comunidades carentes quando alguns amigos teimavam em bradar que nas favelas só haviam "sementes do mal", por todos os motivos acima citados. Mas eu argumentava que o que acontecia eram que bandidos se aproveitavam da posição estratégica dos favelas, normalmente em morros, para se esconderem. Estes bandidos, que se aproveitam da situação carente da localidade para exercer poder sobre a vida daquelas pessoas, nada têm de Robin Hood, eles se comportam como ditadores e agem como verdadeiros responsáveis pelo direito de ir e vir daquelas pessoas.

Acredito que 90% da população carente, que sem opção, mora em favelas, são verdadeiros heróis de nosso cotidiano. Pessoas essas que saem para trabalhar como porteiros, diaristas, motoristas de ônibus, garis, garçonetes e sob todas as adversidades da vida não caem na marginalidade. Vivem, muitas vezes, abaixo da linha de pobreza, não têm perspectiva de vida. Vivem num mundo paralelo dentro das favelas, sob o coação não só do Estado, mas também de bandidos que agem de forma despudorada sobre àquelas pessoas.

Os tiroteios que impedem que as pessoas voltem para suas casas - depois de um dia de trabalho; as invasões da polícia e dos bandidos em seus lares; a obrigação de escolher um lado quando dois bandidos de uma mesma comunidade entram em guerra, e se, por azar, o lado escolhido for derrotado - normalmente com a morte do bandido - ser obrigado a abandonar a sua casa, levando a roupa do corpo e o que mais puder carregar nas mãos.

O que me deixa ainda mais indignada é não saber de onde vem o dinheiro de "caixa 2" que bancam campanhas milionárias dos nossos "honestos" políticos. E se vier do tráfico? E se este dinheiro for patrocinado pela violência que faz o nosso país ter números vergonhosos de assassinatos, números que se assemelham aos de países em guerra.

Por todos esses motivos sou levada a não acreditar que a violência tenha o sentido favela > asfalto, e sim, que venha dos mais altos níveis da sociedade e do poder institucional para a população mais carente do nosso país. Esta faixa, que visualizamos no post abaixo, reflete o grito dessas pessoas que querem somente uma condição de vida mais digna, para que a violência, que é comum ao ser humano, deixe de ser justificada nessas regiões, para que pessoas “grandes” parem de usar as mãos de pessoas que já nascem criminalizas para cometerem seus crimes.

Um comentário:

Anônimo disse...

Bem!

A questão sociocultural e econômico do Brasil é um fórum de discussão travado constantemente. Porém, o diálogo sobre a dessiminação do preconceito(tomar conclusões antes de conhecer) da sociedade perante aos "favelados" fica apenas nas mesas dos "burrocratas" ou "políticos". Sobre as "sementes do mal" dentro das comunidades carentes, isso, é uma conclusão errônea ou de colocar a culpa em alguém. Vou citar algumas pessoas que eu gosto muito, que nasceu em lugar produtor de “sementes do mal” como: Falcão (Rappa), Martin Luther King (Revolucionário), Senhor Gentileza e principalmente (Jesus Cristo). Aonde está o mal?